domingo, maio 22, 2005

Ganha Quem Merece

Isto da clubite é uma coisa engraçada, mas a verdade é que poucos são os que se podem gabar de lhe ser alheia, sobretudo no que toca ao futebol que, em Portugal, é o autêntico jogo de massas. Por mais racional que se tente ser acabamos sempre por vibrar com o jogo da nossa equipa.

O futebol e a clubite são uma mistura explosiva. Emocionamo-nos, sentimos alegrias e tristezas com o resultado da nossa equipa do coração, quase como se fosse uma fé. Eu que não sou um homem de fé admiro-me comigo mesmo por não conseguir racionalizar as emoções, em abono da verdade, não consigo racionalizar muita coisa, embora tente.

Hoje terminou a Superliga. Tal como se esperava, o campeão estava já encontrado e só um milagre podia alterar o rumo dos acontecimentos. Embora a fé clubista seja grande, também não exageremos, até porque os milagres só beneficiam quem os inventa.

A Superliga acabou. O FCP ficou em segundo e garantiu a entrada directa na Liga dos Campeões. Mereceu ou não? Mereceu porque fez mais pontos do que o terceiro, o SCP, assim como o SLB mereceu ser primeiro porque fez mais pontos do que o nosso FCP.

O FCP mostrou quer nos últimos jogos, quer em muitos outros, que de facto não merecia ser campeão, em particular no empate com o Moreirense e no último jogo em que empatou em casa com a Académica 1-1 com golo de Ibson. O que se esperava é que todos cumprissem a sua obrigação que era pressionar do princípio a fim para mostrar vontade de vencer, como era sua obrigação, se queriam ainda chegar ao título. Quanto à Académica fez o que lhe competia e esteve à altura dos seus pergaminhos, jogou bem, dificultou e foi muito perigosa no contra-ataque, em resumo dignificou os seus apoiantes e o futebol.

Evidentemente que nós portistas estamos satisfeitos com o segundo lugar, que até na minha óptica é algo lisonjeiro, pois isso permitirá ao novo grupo de trabalho começar a época no tempo certo e sem sobressaltos e entrar directamente na Liga dos Campeões. Esperamos que a nova equipa que aí vem seja profissional e empenhada e, sobretudo, que todos estejam à altura do clube que vão representar. Nós cá estaremos para os apoiar.

Esta época não foi completamente negativa para o FCP porque ainda conseguiu vencer a Supertaça de Portugal e a Taça Intercontinental, ainda sobre o comando de Fernandez, que quando foi obrigado a rescindir o contrato tinha, se não me engano, a equipa em primeiro ligar. Mais um dos paradoxos de um ano atípico para o FCP.

Sejamos realistas e apontemos o dedo aos culpados. Agora que o campeonato acabou não é necessário proteger ninguém, nem o grupo de trabalho, se é que ele alguma vez existiu. Para ter uma equipa não bastam 11 bons jogadores, sobretudo quando eles são incapazes de jogar em equipa. Não basta um líder forte se ele não consegue manter a disciplina dentro de portas e se mostra incapaz de colocar no seu lugar as claques que exorbitam as suas funções específicas que são as de apoiar incondicionalmente a equipa. Não basta ter um bom treinador (neste caso três sem que nenhum tivesse tido oportunidade de explanar o seu trabalho) sem que exista uma planificação que permita antecipar os problemas. Não bastam dirigentes que afirmam constantemente o seu portismo, mas que na prática ajudam a desestabilizar a equipa com as suas atitudes e ambições pessoais. Não basta ter dinheiro se este não é usado com critério e inteligência.

Esta equipa envergonhou-nos ao logo do campeonato com os seus 24 pontos perdidos em casa e, sobretudo, a falta de carácter e de atitude, salvo raras excepções.

Apesar de tudo isto os adeptos anónimos continuaram a dar o seu apoio e carinho à equipa e ao clube, que serviram de almofada reprimindo muitas vezes a sua frustração sempre com o intuito de ver a sua equipa melhorar de rendimento, ao contrário dos adeptos organizados que não souberam preservar o espírito de grupo, não acarinharam os jogadores e criaram divisões no seio da própria equipa.

Se alguém merecia ser campeão no FCP eram os adeptos anónimos que encheram o Dragão jogo após jogo, apesar da frustação provocada pela falta de carácter e atitudes de grande parte dos responsáveis, desde dirigentes, passando pelas claques organizadas até à maioria dos próprios jogadores.

Que esta época atípica sirva de lição e sobretudo de abanão para que a imensidade de erros cometidos esta época não se repitam, porque quando se perde, mas se luta, nós compreendemos, mas quando não há empenho não podemos desculpar nem dar a outra face. Fé sim, mas não tanta.

Não gosto, nem sou homem de deixar acusações anónimas do tipo "vocês sabem de quem estou a falar" e por isso tenho de destacar que nem todos os jogadores estão no mesmo saco. Alguns bem tentaram remar contra a maré. mesmo correndo o risco de me escapar algum (sempre é melhor do que ficarem todos com o rótulo de incompetentes) aqui ficam os nomes dos que tentaram dignificar a camisola que servem, alguns são mesmo portista, outros são profissionais dignos, então cá vão eles: os incontornáveis Vítor Baía, Jorge Costa e ainda Ricardo Costa e Pedro Emanuel; dos que vieram de novo destaco Diego, Ibson e Raul Meireles; dos jovens jovens oriundos da escola do clube saliento Paulo Machado e Ivanildo; destaco ainda Nuno Valente que, devido a lesão prolongada, quase não jogou na presente época e, por isso, se não deu contributo à equipa foi porque não pode.

Por outro lado, outros que já pertenciam à casa e que até eram referências no FC Porto, mostraram que não mereceram vestir a camisola do FC Porto esta época, queriam sair e estavam desmotivados esquecendo que este era um ano decisivo para a formação de uma nova equipa ganhadora e que a sua experiência e qualidade eram de uma importância enorme para a integração dos novos e transmissão do espírito ganhador que caracteriza o FCP. Podiam e deviam ter trabalhado mais em prole da equipa, são os casos de Costinha, Maniche e McCarthy, mas rapidamente, com a sua atitude dentro (nem sempre, mas muitas vezes) e fora do campo contribuiram mais para destabilizar do que para reforçar o espírito de coesão do grupo. Outros perderam-se em excessos individualistas, que podem resolver aqui e ali, mas que não disfarçam as carências colectivas e o futebol é um desporto colectivo em que o valor individual deve ser posta ao serviço da equipa e não o contrário, estão neste caso Quaresma e Hélder Postiga. Para estes apelo a que ponham os olhos em Deco, esse sim um exímio tecnicista, mas que põe todo o seu valor ao serviço da equipa e não se perde em exibicionismos inconsequentes. Finalmente houve os que nem sequer tiveram oportunidade de dar praticamente qualquer contributo à equipa porque se compraram jogadores a granel e por isso a principal responsabilidade não é deles, mas de quem os contratou.

Por fim dois destaques para Luís Fabiano e Derlei. Luís Fabiano veio rotulado de crack, jogador de Selecção, tinha tudo para vencer, mas não conseguiu vingar no seio da equipa, não o incluo nos jogadores que deram fraco contributo á equipa simplesmente porque viveu uma situação familiar complicada (sequestro da mãe) que o terá condicionado durante largos período de tempo e também me questiono (não ando por dentro dos meandros da equipa) se terá de facto sido bem recebido e enquadrado, desejo-lhe a maior sorte do mundo. Derlei, ora aí está um jogador que dava o litro em campo, teve o azar de ter duas graves lesões seguidas, recuperou de ambas em tempo record, deu sempre tudo o que tinha a dar em campo e nas situações mais adversas, jogador humilde e batalhador de granda capacidade técnica e instinto futebolístico a quem o clube muito deve, ainda hoje ninguém conhece o verdadeiro motivo que levou à sua dispensa, eu gostava de saber, como gostava de saber quem dirige de facto o clube. Derlei se há jogador que merecia ser campeão esta época tu estás à cabeça de todos, por isso aqui fica o meu agradecimento e o desejo dos maiores êxitos na tua carreira, como jogador foste exemplar no FCP daí o meu reconhecimento.

Tenhamos a coragem e o fair play de endereçar os parabéns aos novos campeões nacionais: a equipa e o grupo de trabalho do SLB, porque quanto a dirigentes estamos conversados, aliás o que os clubes, todos os clubes, têm de pior é sem dúvida a nível de direcções. Afinal no meio da bagunçada toda foram os mais regulares.

Dizia Mourinho há uns meses atrás que com ele o FC Porto seria campeão há já alguns meses. Ora aí está um homem do qual podemos não gostar do ponto de vista humano, mas que do ponto de vista técnico e profissional é sem dúvida o melhor técnico de futebol de todos os tempos, que me desculpem o Pedroto e tantos outros bons treinadores de futebol, nacional ou estrangeiro, mas a minha verdade é só uma.

Hoje mesmo se inicia a nova época e hoje mesmo se deve iniciar a preparação da nova época. Não quero terminar sem sublinhar a atitude digna de Couceiro que, tanto quanto sei, pôs o seu lugar à disposição, apesar de ter assegurado a qualificação directa da equipa para a Liga dos Campeões.

Há que olhar para o passado para corrigir os erros, mas saudades... saudades só do futuro.

FORÇA PORTO! NÓS SOMOS A TUA VOZ!


1 comentário:

João Pedro disse...

Mais uma vez tenho de admitir que os administradores deste blog são o oposto dos "super" e outras figuras que envergonham o vosso clube. Sem dúvida uma boa análise do momento actual do Porto.
Saudações de um benfiquista do Porto